Havia dois meses eu não vomitava num lugar público. Mas hoje comprei batata frita num fast-food aleatório e fui morrer no banheiro depois. Constrangedor mas não era nada se comparar com o desespero que eu sentia antes... E bem, essa sou eu. Depressiva, compulsiva, patética. Não, vocês não têm noção de como eu me mostro para as outras pessoas. Eu sou de uma felicidade infantil, eu dou o bom dia mais animado, eu ofereço ajuda - e ajudo de verdade quando posso. Será que tudo isso é necessidade de atenção? Porque quando enfim recebo atenção a minha vontade é ficar sozinha, acabar com o grude, fico aflita. Eu me sinto um desperdício de recursos e oportunidades. "Você vai ser médica, vai ser rica, vai encontrar bom marido..." - e vou estourar meus miolos depois, deixando-o com um coração partido e uma conta bancária tão gorda quanto eu. Gorda, gorda, ridícula, patética. Ser gorda é muito mais do que carregar essa carcaça cheia de banha, ser gordo é ridículo, gordo sempre leva a culpa, gordo só se fode. Eu sei porque sou uma, posso falar. Não se trata do corpo já disse, é algo que vai além... Só não me mato porque sou muito competente - eu não tomaria remedinho ou cortaria meus pulsos, até porque já devo ser imune a isso. Só consigo me imaginar estragando a vida de alguém que pudesse gostar de mim. Não consigo me imaginar grávida, já imaginou se eu surto e preciso tomar algum anti-psicótico? Ou se paro de comer? Eu não quero fazer alarde, eu não sei se acredito mais em tratamento... Também não sei aonde foi parar a minha fé, eu me sinto uma hipócrita perante Deus. Eu acordo, treino, vou ao curso, estudo, converso, mas esse sentimento não sai de mim. E eles não entendem que eu acordo pensando que cada dia pode ser o último, mas que sou eu quem vai acabar com ele.